sexta-feira, 22 de outubro de 2010

9º livro - ÀS MARGENS DE UM RIO CEREAL


(Ano - 2006)



Alguns trechos:




O POETA – Para Mário Quintana
Na praça do Conde
eu vi o poeta
As ruas nos cabelos
No riso a flor do mangue
Tinha um jeito
de barco no Gasômetro
e a paz azul
das ilhas
do Guaíba
No olhar
o lerdo brilho
das escamas
e o manso do rio
e dos cardumes
Gestos minuanos
estavam nele
luz tez pólen grão
o severo das palavras
o mimo da canção
Jacarandava
nas calçadas
e na certeza
de seu povo
miragem clara
de anseio
ilusão


O DESCANSO DO RIO
Aqui o rio
descansa o sonho
e a semente
As pedras
seu guarda-braço
as sombras
as orações
Calcula
quantos peixes medirão
o caminho até o mar
Quantos naufragados
quantos gramas
de erosão
nos seus veios
assoreados?
Remanseia
e se refaz
um remo
em cada escama
impulsa-lhe as águas
se espreguiça
se arrepia
E vai...

CORES
Dá o vermelho
arrogância
à morte
Chenile de chuva
vínculo do corpo
ao barro
da vida
Lívido mármore
o luto
a palidez consagra
Horas sem véu
pose extremada
num galanteio
mudo
Azul concluso
entre o real
do morto e a raiz da coifa
no ventre refaz
o cediço
dos longes
E toga o poeta
no ritual
dos ciclos
a vogal
do tempo
 


 

CONCESSÃO
Aos homens
não somente o vinho
o beber o vinho
e os sonhos
Às mulheres
tudo o mais
mormente o amor


MEDO
O medo da palavra
assusta
quem procura
Caminha o pássaro
nas dobras
do silêncio
Impulsa-lhe a fuga
num voar calado
uma vogal ao longe
sem diapasão
no vento
e o medo
o mutismo
a palavra


ORIGEM
A linha
é Deus
Tudo o mais
enchimento
E é nosso










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