domingo, 24 de outubro de 2010

11º livro - UM CORTE ALÉM DO FIO

 

(Ano - 2008)


 Alguns trechos:








ATITUDE I

Fazer não basta
Assumir o fazer
é como o sal
dentro do gosto

Oreganar a massa
a vida
a atitude
a ideia

Assumir leva à moda
Veste o ato
É como o sabor
na receita

Argumento da mesa
da festa
do tempo
da presença

Construir a história

recompor o poema









 LINHA I


RETA




A reta se espicha
na colheita
do araçá
Escorrega se dissipa
no sumiço do verão

E sem sol
sem cabresto
regulada de azul
se transforma
em ordenada
e tonta tonta fica

e tonta sem girar

A reta se espicha
na vertigem
do viver

e tem pressa de chegar






Lúcio declamando A espera e a esquina

A ESPERA E A ESQUINA

A espera é despótica
e majestosa
Traz o instante
e a história
Aonde iremos
sem saber da esquina?









sábado, 23 de outubro de 2010

10º livro - EPITALÂMIOS PARA ELZA


(Ano - 2008)



Trecho:




VISÕES E VONTADES

Escolhe dois cavalos
na baia do luar
Um negro para o rei
Um ruço para os sonhos
Ensina-lhes dos vôos
segredos do condor
terás as espáduas
as asas do albatroz
Em teu seio guardarás
os anis da paixão
a amplidão será livre
e tua rosa e o teu metro
Escolhe dois cavalos
na baia do luar
Um negro para o rei
um ruço para os sonhos




sexta-feira, 22 de outubro de 2010

9º livro - ÀS MARGENS DE UM RIO CEREAL


(Ano - 2006)



Alguns trechos:




O POETA – Para Mário Quintana
Na praça do Conde
eu vi o poeta
As ruas nos cabelos
No riso a flor do mangue
Tinha um jeito
de barco no Gasômetro
e a paz azul
das ilhas
do Guaíba
No olhar
o lerdo brilho
das escamas
e o manso do rio
e dos cardumes
Gestos minuanos
estavam nele
luz tez pólen grão
o severo das palavras
o mimo da canção
Jacarandava
nas calçadas
e na certeza
de seu povo
miragem clara
de anseio
ilusão


O DESCANSO DO RIO
Aqui o rio
descansa o sonho
e a semente
As pedras
seu guarda-braço
as sombras
as orações
Calcula
quantos peixes medirão
o caminho até o mar
Quantos naufragados
quantos gramas
de erosão
nos seus veios
assoreados?
Remanseia
e se refaz
um remo
em cada escama
impulsa-lhe as águas
se espreguiça
se arrepia
E vai...

CORES
Dá o vermelho
arrogância
à morte
Chenile de chuva
vínculo do corpo
ao barro
da vida
Lívido mármore
o luto
a palidez consagra
Horas sem véu
pose extremada
num galanteio
mudo
Azul concluso
entre o real
do morto e a raiz da coifa
no ventre refaz
o cediço
dos longes
E toga o poeta
no ritual
dos ciclos
a vogal
do tempo
 


 

CONCESSÃO
Aos homens
não somente o vinho
o beber o vinho
e os sonhos
Às mulheres
tudo o mais
mormente o amor


MEDO
O medo da palavra
assusta
quem procura
Caminha o pássaro
nas dobras
do silêncio
Impulsa-lhe a fuga
num voar calado
uma vogal ao longe
sem diapasão
no vento
e o medo
o mutismo
a palavra


ORIGEM
A linha
é Deus
Tudo o mais
enchimento
E é nosso










8º livro - UM POUCO ANTES DA CHUVA


(Ano - 2006)



Alguns trechos:
O MAR E O AMOR
Uma vida é muito pouco
para quem quer ver o mar
Menor ainda
para conchecê-lo de perto
seus ventos
suas líquidas lavouras
as sementes dos deuses
as orações dos peixes
feitas de gesso e silêncio
Uma vida é muito pouco
para quem quer amar
Menor ainda
muito mais
para conhecer o amor
e seus desvios
seus bosques e caprichos
e os pássaros arredios
azuis e amarelos
nas telas do voar


CABLOCOS DA ALMA
Cablocos de minha mata
correi
A trilha da paca é verde
e o caititu já passou
no rastro
da sucuri
É cedo ainda lá fora
e a noite virá depressa
na frouxa flecha do vento
facho e feixe
do tempo
feitiço dentro de mim
Cablocos de minha mata
correi
Meardros de minha sombra
já cobrem as mechas das sarças
que racham o rosto
das pedras
Deixai a paca no coito
O caititu já passou
no rastro
da sacuri


SEM NADA DIZER DA NOITE
Amanhã pardo ainda
sem nada dizer da noite
eu morrerei
Que bom ser assim
de pedra e vidro sem rugas
este edital
Amanhã repito
antes que o sol
desimenize a madrugada
estarei morto
E ainda assim
sonho nenhum deixará o jardim
Já não tenho
o mundo entre os dedos
para brincar de desejos
e temer sua queda
e gemer suas dores
Um dia ele foi meu
e eu pude doá-lo
a cada pessoa
sem perder sua posse
E a doação se fez erva
se fez monte
Agora só poucos
detêm o Mundo
e apertado ao peito
com percinta de ferro
E matam por ele
E não têm domínio
Foi bom saber por isso
que pardo ainda
sem nada a dizer da noite
eu morrerei amanhã



CONSTRUÇÃO
Entre a napa e o espelho
permaneço esférico
Não cavalgo
as curvas
nem a vermelha luz
das estrelas velhas
Penetro a forma
conservo
o teto
Gero meu jeito
Fujo das redes das fronteiras
Salto no primeiro orvalho
E no espaço
de meus sólidos
meus verões
construo
Trajo formigas
Cigarras visto
E
sou


VIOLÃO Para Wilma de Carvalho
Há um violão
no coração do bosque
nas folhas das árvores
nas ervas das pedras
no desenho das cobras
entranhado nos leques
das asas dos pássaros
bebendo
o ar
e o sol
carpidos das cordas
Eu sei
porque no meu peito
também toca
assim
uma harpa
antiga


LUAR E VIDA
Havia uma casa
em cada luar
E uma noite arrastada
muito cansaço
sem rendição
Havia um luar
para cada casa
Uma casa para cada vida
mutirão sem fôlego
monossílabo
de Deus
Havia uma luz
e tantos luares
E uma noite
solitária








7º livro - ESTAS COISAS CÁ DE DENTRO


(Ano - 2004)



Alguns trechos:




MÃE – FÊMEA DE TODOS OS REINOS
Criado o Mudo, criou-se a Vida,
fez-se a questão:
- Quem dela cuidaria?
A semente, um estojo guardaria,
incubando a planta, a regra, nó.
Primeiro fundamento, a geratriz,
no arranjo linheiro das origens.
Depois proverbial, o conviver:
autônomo, uterino,
abissal.
Concebeu-se, assim, a mãe de tudo,
fatorar bendito das espécies.
Mãe dos reinos, mãe dos seres,
mãe da fé.
Dócil gênero da criação:
Mulher.
Mesmo Deus que tudo construiu,
nos espelhos do dia se louvou,
encenando seu drama mais sagrado,
no genoma do Carma,
de maria,
a figura criando de seu filho
no milagre divino
da mulher.


HOMENAGEM (Ao povo de São Benedito do Sul,
recebendo Waldemar Lopes, em 15/11/2003)
E qual o Tudo
de quem
desprovido se acha?
O melhor
para dar
se a dispor
nada existe?
Em redor das torres,
nega o tudo
ao satélite
Imanente em nós,
adormece
o Melhor.
Ou no chão,
macerado fica,
se cordiais vamos juntos,
no calor do arreal,
entre conchas e búzios
Nas baixelas,
há sempre um pouco
do Todo.
Mais um pouco ainda
nos lajedpos das cachoeiras.
Ginete montando
um corcel
de sangue,
maduras Campinas
de votivas
terras.
E rodeado
a montanha,
o filho,
irmão mais velho
que volta.


APARTEIRA (Para Maria Emília Celestino)
O que vêem teus meninos,
ô Maria Celestino?
Só o nada do Mundo?
Ajuda, Maria, ajuda,
ajuda achar meu destino,
na branca luz desses montes,
altar maior de meu tempo.
O que vêem teus meninos,
ô Maria Celestino?
Só as coisas do Mundo?
Ajuda, Maria, Ajuda.
Ajuda quem de mim gosta,
este euzinho sem pecado,
dela um pedaço tirado.
O que vêem teus meninos,
ô Maria Celestino?
As esperas do Mundo?
Ajuda, Maria, ajuda
ajuda encontrar meu porvir.
O Nunca, do perto ficar,
o Quase, daqui não sair.
Meu Pai do Céu
há de ver, Maria,
um mundo de trilhas se abrindo
das portas das tuas mãos
Ajuda, Maria, ajuda,
ajuda achar meu devir,
que eu também te ajudarei
na hora que fores partir.





6º livro - AS RETICÊNCIAS DOS SONHOS


(Ano - 2003)



Alguns trechos:






O POETA E A CRIAÇÃO
O poeta fala
e pensam
que é fingidor.
A invenção
lhe cai da alma,
como cai a parição
nas leiras
dos vegetais.
O poeta diz
com a voz
da sensação,
descamando a fé
da dúvida,
tal quem põe
um brilho a mais
nas escamas do salmão.
O poeta desamarra
o nó da amarração,
a raiz
que racha a pedra,
a folha
que prende o vento.
E livra todos os gansos
do quixó da criação.


INSIGNIFICÂNCIAS ABSURDAS
E nada significamos:
nem eu, nem tu,
ninguém.
A tibieza,
um morno cárcere
de amianto.
Um mormaço de agonia
que macheia
sem jardim.
O que mais
assim farias,
senão beijar
o pedestal?
Deste mesmo desespero,
a madona padecia,
teu beijo lhe ferindo
no bronze do olhar
um silêncio mal calado.
E nada refletia
o tremor
dos castiçais,
que não fosse a outra pátina.
No chão,
os votos inúteis,
e as vãs promessas
nos baldes da boca
tão mal prometidas.


AS VALAS COMUNS DE KÔSOVO
Agora,
tragam o álbum funerário.
Na última vez,
ele ria
e beijou-te os cabelos.
Tinha um ar
de quem nunca voltaria.
E os beijos ferviam
ao se despedir.
O riso abundante,
farto, perdulário.
O jeans cor do céu,
a branca camisa,
garças rentes ao mar.
Os sapatos pretos,
negros tal aquele sábado.
Tudo lhe entregaste
sem desconfiar
do sol,
que abria
as janelas
ao teu corpo
tocado
no tempo dos ontens.





5º livro - UMA PORTA PARA DENTRO DA PEDRA


(Ano - 2002)



Alguns trechos:


RAMALHAR
Ao manso touro
do vento,
as leucenas
propiciam
as verdes drágeas
das folhas.
E a brisa
vai digerindo,
por trás das
rumens
das cercas,
as calorias
da tarde.



A CONTA
A conta
na medida,
a conta
no tamanho,
sem conta no amar.
Vida boa
pode ter,
todo aquele
que souber
este verbo
conjugar.
A conta
na medida,
a conta
no tamanho,
sem conta no amar.


AMIGOS
(para Carlos José Bezerra)
Amigos são certezas
sem endereços,
sem fusos
nem continentes.
Basta viver
no tempo deles.
Nada
mais.
Os braços dos amigos
pausam sempre,
em qualquer ombro.
Com um riso,
e um mesmo salto
a caírem
feito
um sol.

AH, AS MULHERES!
(Para Elza)
Admiras,
porque fácil eu durmo
e durmo bem.
E me abandono,
enquanto rondas
o mosaico
de meus pés.
Eu te esclareço.
São as certezas,
que ficam comigo,
provindas de ti,
quando o sol acende os jambos
e traz os galos
da alvorada.
Tu que as regas
com as águas de maio,
a poda dos olhos,
um toque sem grau,
cafuso silêncio,
de um mar sem parelha do Senegal.
Admiras,
porque fácil eu durmo,
e durmo bem.
É que me acarinhas
com teus cuidados,
tal qual minha mãe
com bênçãos fazia.


SAUDADE (para Josepha Máxima, minha mãe)
São muito curtas,
meus braços,
para vencer tais distâncias.
Onde andará
Dona Josepha
que me rende esta saudade?
Ah, pudera novamente
eu ser criança,
para ter outra vez,
minha mãe junto a mim:
Um seio quente,
moreno mimo,
a vida na minha,
um manto de rei.
Ai, onde andará
minha dona,
que me rende
esta saudade?


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

4º livro - LINHAS DO TEMPO (Hai-Kais)

(Ano - 2002)



Alguns trechos:






ORVALHO
Uma palavra fria
cai das pálpebras da folha
e se cala entre os seixos


DEZEMBRO
O chão bebeu a chuva
e fez a provisão nas poças
para a sede do sol


ENXURRADA
Chove nas encostas
A mãe reza espavorida
A pedra ignora


SEDE
Pássaros acrobatas
na sangra do tanque
que imita chover

CAÇA
Quando o tiro ecoou
a nambu riscou o céu
com o dardo da queda


ÓCIO
Um gato deitou
num losango de sol
que caiu da janela


RISCO
A rã toda noite
está disposta a caçar
A cobra também



3º livro - AS DUAS EXTREMIDADES DA LUZ

(Ano - 2001)


Alguns trechos:



O QUE ERA ANTES DO TEMPO
Nada era antes da dor
assim a cria
antes do parto
este mistério
antes da morte
Nada era antes da luz
assim o símbolo
antes da coisa
este sentido
antes do gosto
As dores que eram
antes da parte
com a partilha desvaneceram
assim a vez
com a presença
Assim o ódio
e a justiça
Nada era antes da dor
assim a vida
assim o amor



O PARTO DO BRANCO
(Antônio Maura)
Havia uma presença
no branco
e ninguém esperava
nem quem nele vivia
alva lousa
branca tela
onde o caos
fora rei
ébrio sol
giz de gelo
gêmea crista
e os pulos das órbitas
do aço do pio
do ovo do sal


OS CICLOS E OS NÓS DA TORRENTE
(Para Waldemar Lopes)
Então maio chegou
e a hora
a cuidar da terra
a escolhida semente
o sol a chuva a bênção
o olhar do lavrador
topógrafo das mesas
das glebas dos celeiros
E depois a vergôntea
a canção das raízes
primeiro sanhaçu
Maduro de promessa
o fruto veste safra
os refluídos grãos
e maio
que retorna
Escalar os desejos
reinventar a planta
e refazer o susto
tão viável o certo
que reflexo
junta as águas
querendo fazer
um mar
Então maio chegou
o sol a chuva a benção
e o olhar do lavrador






2º livro - EXERCÍCIO DO SENTIR

(Ano - 2000)


Alguns trechos:



Pois Deus veio
e disse:
- Abre a alma
esta música é tua
Eu faço sagrada
se a ponho
em tuas mãos
Dirás no pentagrama
que ela é tua
e foi no entanto
um Deus
quem a consagrou



PAZ
Minha casa
é um templo
Sinto um Deus sonolento
a querer me falar
sem tocar
os meus nadas
e sorri paciente
escutando o que penso
dessa vida binária
Abro então
O meu sono
tal abrisse uma agenda
onde letra nenhuma
riscará o silêncio


CONSEQUENCIAS
Por fazer minha parte
fui lembrado
guardou a pedra
meu nome
mudou o pássaro
de canto
saiu a lua
mais vezes
num céu azul estrelado
Por fazer minha parte
fiz sentido
as águas que dei
saciaram
e o pão das sobras pensado
palavras de pedra
tão simples
num coração repartido

Por fazer minha parte
fui lembrado.



DEUS NAS ÁGUAS
Olho Deus no rio
que passa
e percebo a humanidade
tão dispersa mutilada
num milhar de direções
Sou o deus
de meu cachorro
e ele dorme em meu tapete
Esperar assim é justo
de quem é tão poderoso
Olho Deus no rio
que passa
e percebo humanidade


CONSAGRAÇÃO
(A Joaquim Rodrigo – Concerto de Aranjuez)
Pois Deus veio e disse:
- Abre a alma
esta música é tua
Eu faço sagrada
se a ponho
em tuas mãos
Dirás no pentagrama
que ela é tua
e foi no entanto
um Deus quem a consagrou

1º livro - UM OLHAR PARA CADA COISA

(Ano - 2000)

Alguns trechos:




 PRAGMATISMO
Tudo está feito
irremediavelmente feito
o que se pensou
o que ora viaja
a nave da luz
e o que risca o espaço
na asa das águias
além das montanhas
Abre tua cartilha
exercita a lição
e descansa na pedra
onde inclina o araçá
seus carinhos maduros
Tudo está feito
e de algum modo
estamos também


MARINHAS (Para Alberto Cunha Melo)
Eu tomo do mar
o austero do mar
o assim ser do mar
eterno e indômito
e nele m
e encravo
com minhas entranhas
e minhas vazantes
meu surto de jade
e enfim sou o mar
e só mar...mar...só


OS PEQUENOS POETAS DAS ÁGUAS
Aqui Riacho de Mel
corre apertado nas várzeas
lavando os pés das andacas
um leve salto acolá
sem despergar-se das pedras
para que nunca se perca
mas é o poeta sereno
dos bordões d`águas inteiras
que só o mar sabe cantar
destas canções de barqueiro
que os rios levam nas almas
louvando suas nascentes


UM OLHAR PARA CADA COISA
Toda manhã
olho as flores
com este olhar
de ver flores
com o dos anjos
o céu
com o dos mares
a praia
e o céu a praia e as flores
eu posso ver e entender
em qualquer ponto
da estrada


AS MÃOS DA VIDA (Para Elza Ferreira)
As mãos da vida chegaram
e nestas coisas mexeram
que lá no fundo do lago
o meu silêncio escondia
as mãos da vida trouxeram
o abençoado alvoroço
e os sentimentos sopraram
bem aqui dentro de mim
e o enroscar-se da morte
deixando o ninho da lama
veio girar nos peraus
da tona alegre da vida



O CARANGUEJO
Impressão bem lisonjeira
a que passa o caranguejo
de viver na lama preta
e ser limpo como um padre
e a maneira que ele tem
de ganhar roupa nova
engessando a nova capa
pra trocar de armadura
parecendo talentoso
elegante aristocrata
no pisar pontas de pata
qual vaidoso rei de França.









A História do Poeta

Lúcio Ferreira, 80 anos, economista, descobriu a poesia muito cedo em sua vida. Vindo de uma família muito humilde, com o pai analfabeto, passou grande parte da sua vida morando em palafitas no município de Olinda.

Encontrou a sua musa inspiradora, no amor da sua vida, Elza. Aos 18 anos casou-se no civil e só houve a comemoração religiosa 65 anos depois com a presença dos sete filhos, muitos netos e toda a família.

Como um bom marinheiro de primeira viagem, Lúcio teve seu primeiro emprego na marinha e depois no Banco do Brasil, em Limoeiro. Um fato interessante foi como o poeta conseguiu o emprego no Banco. Sua mulher Elza, utilizou o dinheiro de pagar contas da casa para inscrevê-lo num concurso altamente concorrido e por ventura, ele veio a ser aprovado entre os primeiros colocados.

No Banco, Lúcio teve a oportunidade de crescer profissionalmente e mudar de vida. Agora ele não morava mais num vagão, nem numa palafita, nem precisava de dinheiro emprestado, nem tinha mais necessidade de se endividar.

Apesar da formação de economista, Lúcio sempre foi um apaixonado pelas letras. Sempre gostou de ler e logo passou a admirar nomes como Clarice Lispector e Cecília Meirelles uma de suas grandes fontes de inspiração e influência.

Criar sete filhos também não foi tarefa fácil, mas Lúcio, sempre apoiado por Elza conseguiu desempenhar o papel de patrono de forma exemplar e admirável. Todos os seus descendentes têm hoje uma boa formação, que não nasceu apenas do estudo, mas da educação dentro de casa. Como todas as famílias, sempre tiveram altos e baixos, mas conseguiam dar a volta por cima com maestria. Hoje, a maioria dos seus grandes poemas são dedicados a Elza.  
Lúcio e Elza